27 de out. de 2015

Mergulhei

Me isolei, tive muito tempo para pensar no que queria e não cheguei a nenhuma conclusão. Me abri para o passado, mas é sem futuro, sofrimento demais para o presente.

 Um novo presente me aparece, sorrindo e cheiroso, avaliei e pensei em viver. Perfeito, eu tenho a chance de fazer tudo diferente agora. Me moldei, deixei o cabelo crescer, comprei vestidos novos e abandonei os shortinhos.

 Era tudo perfeito, abraços demorados, beijos com carinho no rosto e mordidas de desejo, ficamos como dois adolescentes andando de mãos dadas na rua e namorando nos bancos das praças da favela. Tão lindo ele sorrindo pra mim, eu estava radiante e querendo mergulhar nesse mar perfumado.

 Quando estava prestes a pular, senti saudade de como eu era antes, percebi o quanto aqueles vestidos novos me deixavam sem curvas e que com o calor que fazia eu queria os meus shortinhos e o meu cabelo curto, mas fiquei com medo de não ser aceita.

 Não mergulhei, fui devagar e quando molhei meu corpo reparei... Que não era o meu cabelo comprido, mas porque não fiz como deveria fazer. Voltei para solo firme, cortei o cabelo e me vesti de mim mesma.

Agora mais confiante e me amando mais, mergulhei sem medo.

 Estou adorando esse mar perfumado. Não apenas por ele, mas principalmente porque dessa vez eu entendi que não é o salto mais alto que ganha a competição e sim a forma como você mergulha.

Alyne Sakura
Edição: Renata Orlandi
Fotografia: Marta Alves